DIOCESE
DE PATOS

Homilia do Cardeal Magella na Ordenação de Dom Eraldo

Homilia do Cardeal Magella na Ordenação de Dom Eraldo

 

Aqui nos reunimos, sob a invocação do Espírito Santo, para a Ordenação Episcopal do Bispo Eleito, apresentado pelo Papa Bento XVI, o Presbítero Eraldo Bispo da Silva.

É motivo de alegria para a Diocese de Barreiras oferecer um sacerdote que passou por este Oeste da Bahia seguindo as pegadas de Jesus Cristo, fazendo o bem, tendo sido aqui Administrador Diocesano na vacância pela morte do nosso irmão Dom Ricardo Weberberguer, de saudosa memória, e a posse do novo bispo Dom Josafá Menezes, com a graça de Deus reinante. Foi uma boa exercitação para quem o Senhor Jesus chamou agora para o ministério episcopal. Motivo de alegria para os familiares e os fiéis da Diocese de Patos da Paraíba aqui presentes com muitos de seus sacerdotes que logo mais acolherão o novo bispo. Lembramos que o novo bispo foi ordenado presbítero em Monteiro, Diocese de Campina Grande.

 

Por um conjunto de circunstâncias, a escolha deste dia para a ordenação episcopal de Dom Eraldo Bispo da Silva é mais que feliz; constitui um programa para ele e uma mensagem para nós. Celebramos, dentro da oitava do Natal, a festa do Apóstolo e Evangelista São João.

 

Celebramos João, filho de Zebedeu, um pescador dos lagos da Galileia que, chamado por Jesus, deixa tudo – o pai e as redes – para seguir o Mestre, trocando a família e a pesca, por outra família e atividade, a Igreja nascente como pescador de almas. Celebramos hoje o Apóstolo João, aquele que melhor penetrou na riqueza insondável do mistério do Messias, tornando-se o seu confidente, o amigo predileto, o apóstolo intuitivo que descobre, melhor que ninguém, os sinais da presença de Jesus, merecendo na iconografia cristã a sugestiva imagem da águia. São João, o discípulo fiel, perseverou ao pé da cruz: aquele a cujos cuidados Jesus confiou a própria Mãe, aceitando-a também como Mãe; o apóstolo, testemunha privilegiada da ressurreição. São João, um dos três apóstolos mais destacados pelo próprio Mestre: Pedro, Tiago e João; uma coluna importante da Igreja.

 

Caro Dom Eraldo, com a ordenação que nós, bispos, sucessores dos apóstolos, hoje te impomos, passas a fazer parte dessa mesma sucessão. Tornas-te verdadeiro apóstolo também tu. Que a figura e a ação do apóstolo São João te ilumine. Como ele, continua a deixar tudo, como quando entrastes no seminário e depois com as primícias do teu sacerdócio que te trouxe tantas alegrias, em Luís Eduardo e Barreiras, e vive na escola do mestre, aprofundando o seu mistério e dando testemunho dEle a quantos encontrares, sobretudo na Igreja de Patos na Paraíba, onde és chamado a exercer a missão de apóstolo.

 

Todo bispo encontra na figura do Bom Pastor um modelo e inspiração. A bela imagem a nós descrita pelo evangelista São João guiou primeiramente a obra dos apóstolos e depois a de seus sucessores, nos vinte séculos de História da Igreja.

 

A exemplo do Bom Pastor, o Apóstolo Pedro, desde Roma, escrevia aos responsáveis das comunidades da Ásia Menor: ”Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, vigiando não pela força, mas de boa vontade, segundo Deus, fazendo-vos modelos do rebanho” (1Pe 5,1-4).

 

Por este ideal se inspiram tantos prelados, que no curso dos séculos tem guiado o povo de Deus sob os caminhos do Senhor.

 

Como o profeta Jeremias, o novo bispo põe toda a sua confiança na graça de Deus onipotente, que lhe diz: ”Ide aonde eu te enviar, e dirás o que eu te mandar dizer. Não tenhas medo dos homens; eu estarei sempre contigo para salvar-te”(Jr 1,7-8). Dom Eraldo Bispo da Silva, recebendo a missão episcopal, farás parte do colégio episcopal, como bispo da Igreja Católica e, portanto, como sucessor dos apóstolos.

 

Na vida mesma da Igreja, existe prioridade da Igreja presente em todo o mundo sobre a Igreja Particular. A Igreja no mundo, desejada por Cristo e nascida por obra do Espírito Santo no dia de Pentecostes, deu vida, como mãe fecunda, a tantas Igrejas Particulares, mas a Igreja é sempre Una como uma é a família, mesmo se deu seu leite, no curso dos séculos, a numerosos filhos. Depois de 2000 anos, o colégio apostólico, primeiramente formado por 12 apóstolos, hoje seus membros superam o número de quatro mil bispos. Prioritário é pertencer ao colégio episcopal com solicitude por todas as Igrejas dentro do liame à uma Sede Particular, a de Patos na Paraíba.

 

O rito da ordenação episcopal que estamos iniciando nos dá o sentido do serviço, diaconia, e da comunhão, koinonia, que o próprio Cristo viveu e ensinou aos apóstolos para serem testemunhas diante do povo de Deus. O Concílio Ecumênico Vaticano II desenvolveu e relacionou com Cristo: Servo-Pastor-Sacerdote-Mestre, a doutrina do episcopado, restituindo à ordenação episcopal o valor de dom específico decorrente da fonte que é o Espírito Santo, não mais restrito unicamente ao momento eucarístico, mas aberto à missão: o eleito é ordenado e consagrado para a missão do sucessor dos apóstolos.

 

O esquema das funções não é mais visto em sentido separado, porém, sim, em relação com toda a missão da Igreja, em que a consagração faz o novo bispo entrar em um corpo voltado colegialmente à missão universal. Somente assim é que se fundamenta a presidência de uma nova comunidade diocesana tanto na Eucaristia quanto pastoral, que compete por direito e por natureza ao bispo. É uma preeminência de decisão e de verificação.

 

O bispo aparece assim, no vértice da hierarquia ministerial, diferente nos seus três graus de intensidade do único sacerdócio. A distinção entre esses graus e o sacerdócio dos fiéis toca a essência mesma. A teologia pós-conciliar nada mais fez do que desenvolver a perspectiva do ministério, sobretudo do bispo, como expressão do sacerdócio de Cristo, que vive e intercede por nós na glória do Pai.

Diz a oração consecratória sobre o novo bispo: “derrama agora sobre este teu eleito, o poder que vem de ti, o teu Espírito ‘principalis’ = soberano, que rege e guia: tu o deste ao teu amado Filho Jesus Cristo e ele o transmitiu aos santos apóstolos que nas diversas partes da terra a Igreja como teu santuário para a glória e louvor perene ao teu nome”.

Santo Irineu de Lion nos lembra: “À Igreja foi confiado o dom de Deus (Jo 4,10) como o sopro ao modelo plasmo (Gn 2,7), a fim de que, recebendo, todos os membros sejam vivificados. Nela está contida a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor de incorruptibilidade (Ef 1,14; 2Cor 1,22), confirmação de nossa fé (Col 2,7) e escada para subir a Deus (Gn 28,12). De fato, na Igreja, Deus colocou apóstolos, profetas e doutores (1Cor 12,28) e toda outra ulterior operação do Espírito”.

Diz o texto da prece consecratória que o ministério episcopal é apascentar o santo rebanho de Deus”, “cumprir a missão do sumo sacerdócio”, serviço ininterrupto a Deus; ao Bispo “com a força do Espírito do sumo sacerdócio” é conferido o poder de perdoar os pecados”, de “dispor os ministérios da Igreja segundo a vontade divina e de “desligar de todo vínculo”.

No bispo, rodeado de seus presbíteros, está presente o próprio Senhor Jesus Cristo que, através do ministério do bispo, continua a anunciar o Evangelho e a inserir os fiéis no seu ministério de salvação; é Cristo que, na paternidade do bispo, acresce com novos membros o seu corpo que é a Igreja; é Cristo que na sabedoria e na prudência do bispo guia o povo de Deus na sua peregrinação terrestre até alcançar a felicidade eterna.

Nossa oração se dirige também à Mãe do sumo e eterno sacerdote, que presenciou em sua vida o crescimento do menino-Deus em idade e graça diante de Deus e dos homens, que presenciou o sacrifício de Jesus na cruz, e participou da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos no dia de Pentecostes, esteja conosco hoje e interceda diante do mesmo Jesus, seu Filho e nosso Senhor, para que desça sobre o eleito bispo a plenitude do Espírito Santo e o consagre para a glória de Deus e o bem da santa Igreja que está em Patos da Paraíba.

 

Cardeal Dom Geraldo Magella Agnello,

Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia.

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